Depoimento contundente de Elisa Lucina em sua página no Instagram:
“É um soco na cara da democracia cada morte de um menino brasileiro. E é chocante como não dói no nosso coração, no coração da população em geral. Como o País não para…
É como se fosse um país dividido numa grande bolha, protegida pela grana, pelos carros blindados, pelo poder, pela carteirada, pela influência, e a outra banda, a banda da maioria, que vive a orfandade do Estado.
Então pra mim o crime, a situação que assassinou o Thiago Menezes Flausino, é a nossa tragédia, tragédia cotidiana, e você, que não faz nada sobre esse assunto, que acha que não é assunto seu, está envolvido na chacina diária, no genocídio da nossa juventude negra.
E eu estou falando isso não para te acusar, mas pra você sair da sua zona de conforto e achar que isso não é assunto seu. Tudo é assunto nosso!
O desmatamento da Amazônia é assunto nosso! O assassinato de brasileiro que poderiam servir para a educação do País, pra evolução do País, é assunto nosso!
A gente sabe que se esse menino, esse Thiago de 13 anos, fosse daqui da Zona Sul ou das zonas nobres das cidades, de qualquer cidade, não fosse da Cidade de Deus, de onde ele é, ele estaria vivo! Ele não seria assassinado! Porque a polícia não mata menino branco rico. Não mata! Porque isso dá B.O.. Isso dá problema. Agora, na desassistência de uma população que nem muitas vezes completou o ensino fundamental, é fácil fazer essa barbárie diária.
Essa doença apodrece a nossa democracia num lugar irreversível, enquanto a gente não cuidar desse cancro brasileiro.
Enquanto a gente não cuidar do racismo, que é a base de todas as instituições, todas que eu conheço, militares, educacionais… O racismo é a referência que a gente tem, o modelo que a gente tem. Porque foram 380 anos de escravização de gente, comércio de gente, no Brasil. 380 anos! E isso marca uma sociedade. Isso deforma uma sociedade. Isso forma pro lado mau uma sociedade
É nisso que estamos imersos. E é disso que temos que emergir. É desse inferno, dessa injustiça, dessa guerra diária, indigesta, que mata todo o mundo, que matando o Thiago matou uma parte da mãe do Thiago, matou a família, matou…
Aquela foto. aquela foto daquelas crianças é chocante… É da Selma (Souza), né? Esqueci o sobrenome dela, mas a foto daquelas crianças é muito forte, porque parece que as crianças estão pensando: “E eu? Daqui a pouquinho sou eu?” E é um desamparo. É a foto do desamparo.
Se você não é antirracista, você está envolvido.
Se você se cala, você concorda.”
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Adendo de Combate Racismo Ambiental:
Minutos após a postagem desta matéria, chegou a notícias de que uma menina de 5 anos, Eloah da Silva dos Santos, havia morrido, baleada enquanto brincava dentro de casa, na Ilha do Governador. Pouco antes e na mesma área, um adolescente de 17 anos havia sido morto pela Polícia Militar.
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Crianças choram no enterro de Thiago Flausino, 13 anos, morto em operação policial na Cidade de Deus. RJ. Foto: Selma Souza / Redes sociais
